UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CENTRO DE ESTUDANTES DE HISTÓRIA
NOTA DE EXPLICAÇÃO
As e os estudantes de História que constroem o Centro de Estudantes de História (CHIST UFRGS) vem através desta carta explicar e, na medica do possível, dar respostas às situações ocorridas durante a festa de fim de semestre “Arraial da Maria Bonita”, que ocorreu no dia 11 de Julho na CEU (Casa do Estudante da UFRGS), localizada na avenida João Pessoa, número 41.
A festa em questão foi construída com o intuito de arrecadar fundos para que as e os estudantes do mesmo curso pudessem financiar parte do valor do ônibus que levará as e os mesmos ao XXXIV Encontro Nacional de Estudantes de História, uma vez que até a referida festa, não estava garantido o apoio financeiro da universidade para custear tal viagem. Ao longo dos últimos meses nós, estudantes de História, organizados pelo CHIST, temos feito diversas atividades que fizeram parte de uma política financeira, à qual a festa se inclui.
Lidamos constantemente com a política da universidade de cerceamento dos espaços construídos e gestionados pelos estudantes, incluindo as festas do Movimento Estudantil. Diversos Centros e Diretórios Acadêmicos, principalmente dos campi Centro e Saúde, foram proibidos de realizar suas festas, assim como o DCE. Aqueles que têm mantido as atividades, têm o feito em resistência às – ou contra as – normas da universidade. Acreditamos ser uma contradição: a mesma universidade que não nos auxilia em nossas atividades, também cercear nossa política financeira e que, em última instância, criminaliza o Movimento Estudantil. Assim como cada vez mais a lógica que pressupõe uma formação individualista, competitiva e meritocrática, unicamente correspondendo às demandas de mercado e não a uma formação humanista, tem feito com que os espaços coletivos sejam diminuídos e desmerecidos dentro da UFRGS.
Uma vez que a festa ocorreu em um local público e, portanto, gratuito, aliado ao fator das demais festas de estudantes na universidade não estarem ocorrendo e por [estarmos no período de fim de semestre, o público que acessou o espaço ultrapassou o limite, do qual poderíamos ter maior controle da situação. Em outras atividades do CHIST, realizadas na CEU, nos anos anteriores, o indicativo de término era até o horário em que as pessoas pudessem ter acesso aos seus respectivos ônibus, nos primeiros horários da manhã. No entanto, pelo número de pessoas na festa e o fato de ocuparem o hall do sétimo e oitavo andares (o que já havíamos solicitado de diversas formas que não fosse feito), tomamos a decisão de não permitirmos a entrada de mais pessoas na festa. Ficamos algumas horas de prontidão, explicando a situação aos demais colegas e não liberando a entrada na festa. No entanto, isso não impossibilitou que outros problemas acontecessem dentro da CEU, como relatado por moradorxs. Infelizmente nos deparamos com situações de constrangimento, ou mesmo de agressão verbal as e aos moradorxs, assim como danos a um dos banheiros do oitavo andar. Quanto a esta última situação, assumimos a tarefa da limpeza e manutenção do espaço, assim como a disposição para o diálogo com as e os moradorxs da CEU-Centro, seja individual ou coletivamente. Inclusive foi através desse diálogo que nos foi chamada atenção para a demanda por espaços coletivos para estudantes da UFRGS, como um Centro de Vivências no Campus Centro.
Já no período da manhã, entre 4h e 5h, iniciamos a limpeza do terraço, com o bar já fechado e a música desligada, mesmo que algumas pessoas ainda permanecessem no local. Na tentativa de dinamizar a saída, as luzes foram acessas, o que desagradou algumas pessoas presentes e iniciou-se uma discussão. Mais uma vez, infelizmente, a situação acabou saindo de nosso controle, quando dois colegas, um estudante e colega da História da UFRGS, envolveram-se em uma briga, causando agressão física ao colega de Direito da PUC, Rodrigo e se desdobrando em atitudes de cunho racista, que posteriormente foi elucidada aos colegas. A esse respeito, primeiramente pedimos desculpas ao companheiro, certos de que esse pedido em nada modifica a dor e o constrangimento que o mesmo passou e que tantxs outras e outros negros e negras sofrem diariamente. Deixamos escuro que o CHIST não corrobora com nenhuma forma de opressão e admitimos que diante do adiantar da hora e das demais situações ocorridas na festa, também nesta não soubemos estabelecer a melhor mediação para o momento. Isso fez com que também nossas colegas tenham se sentido atacadas no momento da discussão por atitudes machistas; também fica nosso pedido de desculpa a elas. Lembrando que ambas opressões são tomadas com seriedade por nós; compreendemos, em muitos casos, que os envolvidos estão em processos de desconstrução, principalmente para aqueles que estão na situação de perpetradores. Por vezes, um diálogo respeitoso e empático é o bastante para elucidar as situações e como futuros educadores, também estamos aprendendo com nossas experiências diárias a melhor maneira de lidarmos.
Queremos que mais do que nunca o companheiro Rodrigo e as e os demais participantes e colegas saibam que o CHIST, suas festas e eventos são sim lugares em que todos e todas negros e negras devem sentir-se a vontade, sem receio algum de se aproximar, certos de que o diálogo sempre prevalecerá, o fato ocorrido foi um caso isolado e que certamente ficou como aprendizado, para que de forma alguma volte a se repetir.
Reiteremos, novamente, a nossa abertura ao diálogo, pois será muito importante ao CA que possamos trocar essa ideia com qualquer pessoa que se sinta afetada pelos acontecimentos da festa. Que possamos todos nos olhar e buscar juntos o entendimento e o respeito fundamentais nas lutas que travamos diariamente.
Perspectivamos também ações que nos ajudem a reconhecer melhor nossas dificuldades e necessidades enquanto Centro de Estudantes para combatermos as opressões vividas diariamente e contamos participação de todxs nessa construção. Entendemos todxs que de alguma forma esperavam nosso posicionamento diante de tudo o que aconteceu e que tenham se incomodado com a demora na divulgação. Isso se deveu ao fato de que consideramos a importância da discussão coletiva e presencial, o que por hora atrasou um pouco a construção dessa nota, tendo em vista que somos todxs estudantes, trabalhadores.
Quaisquer outras questões que possam surgir a partir desta nota, também nos colocamos a disposição para o diálogo.
CENTRO DE ESTUDANTES DE HISTÓRIA
Gestão 2014-2015: “É Vivência, É Política, É Resistência”